Histórias de Moradores de Jaboticabal - SP

Esta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores da cidade de Jaboticabal.


História da Moradora: Simone da Costa Mello
Local: São Paulo
Publicado em: 05/11/2014



 



Subia nas árvores e ficava conversando com elas

Sinopse:

Simone nasceu em Jundiaí, mas morou até os 11 anos em Perus, bairro de São Paulo. Apesar de longe da escola, o que lhe causava problemas para ir à escola, ela tinha um enorme quintal cheio de árvores e flores. Depois, toda família mudou para Jundiaí, onde Simone concluiu o Ensino Médio. Apaixonada pela natureza, Simone cursou Engenharia Agronômica na Unesp de Jaboticabal. Posteriormente se especializou no estudo da produção de hortaliças. Hoje é professora na ESALQ.

História:

Eu nasci no dia 6 de março de 1968, em Jundiaí, São Paulo. Meu nome completo é Simone da Costa Mello. Meu pai chama Marcos Paulo da Costa Mello e minha mãe Aracy Fernandes Mello. Eles atualmente são aposentados. Meu pai tem 74 anos e minha mãe tem 72 anos. Meu pai sempre trabalhou na área de mecânica, na empresa Acrupe, e minha mãe sempre foi dona de casa, sempre foi doméstica.

Meu pai levou cinco anos para construir a casa em que passamos a infância, e o que me chamava atenção ali era o quintal, onde nós tínhamos bastante árvore frutífera: pitangueira, ameixeira, goiabeira, jabuticabeira. Lembro que gostava de passar meu tempo lá; subia nas árvores e ficava conversando com elas. Eu pedia para elas frutificarem, para que continuassem produzindo seus filhos, que eram na verdade as sementes que iriam originar novas árvores. Quando nasciam as mudas eu coletava, colocava nas latinhas com terra e doava para os vizinhos para que eles pudessem plantar nos quintais.

Minha avó me passava que existiam duendes na natureza e eu sempre acreditava que no quintal existiam esses seres mágicos, pequenos, e que eu podia falar com eles. Então eu também conversava com os insetos, especialmente as abelhas porque elas eram os principais agentes polinizadores. Além delas tinha as formigas, tinha os gafanhotos, o tatu bola que eu comia também (quando minha mãe não via). Esses insetos me chamavam atenção e eu sempre procurava observar a dinâmica e os hábitos deles durante o dia. Acho que fazia isso desde os meus três, quatro anos, e eu brinquei naquele quintal até os onze. Minha avó materna sempre trabalhou na lavoura. Capinava, colhia; ela fez isso por muitos anos. E gostava muito, tinha essa paixão pela natureza. No quintal ela me ensinava a cultivar abóbora, chuchu, pepino, ou seja, eu sempre aprendi com ela. Então isso também vem dessa paixão, porque eu tinha muito afinidade em termos de personalidade com essa minha avó materna.

Eu morei até os 11 anos de idade no bairro de Perus, em São Paulo. Depois meus pais mudaram pra Jundiaí pra realmente facilitar a minha vida escolar. Eu estudei até a quarta série primária num colégio da prefeitura em Perus, na Vila Caiuba, e o ensino não era realmente muito bom. Aí meu pai me transferiu pra São Paulo, no Colégio de Santa Inês, no bairro do Retiro, só que o meu meio de transporte era o trem. Então eu tinha que fazer essa vida todos os dias, pegar o trem em Perus, ir até São Paulo. Então realmente era uma vida um pouco cansativa pra uma menina pequena, né? Eu ia até a estação da Luz, e da estação da Luz caminhava 20 minutos pra chegar na escola. Uma vez arrancaram meu sapato, caiu no vão do trem. Naquela época os trens já eram superlotados e a gente pegava o trem muito cedo, era o horário de pico. Esse esmaga ali do trem realmente também forçou meu pai a mudar de cidade. Ele resolveu mudar pra Jundiaí pra facilitar. Aí eu fui transferida para o colégio São Vicente de Paula onde eu fiz a sexta, sétima, oitava e o primeiro colegial. Depois eu fui para o o Leonardo da Vinci e fiz o segundo e terceiro colegial em Jundiaí.

Eu sempre pensava que eu queria ser professora, porque eu sempre gostei também disso, mas relacionada a essa área. E a agronomia ela te dá um leque muito maior de opções, a biologia já é um pouco mais restrita. Então entre biologia e agronomia, eu escolhi agronomia pelo fato de você ter aí todas as áreas envolvidas dentro do setor agrícola, então você tem economia, você tem o estudo do solo, da água, não só da produção vegetal em si. Quando eu cursei o terceiro colegial já havia decidido o que queria fazer. Só prestei o vestibular na área de engenharia agronômica na Unesp de Jaboticabal. Jaboticabal, na época, devia ter 80 mil habitantes, então era uma cidade pequena, não tinha muita coisa para se fazer. Nos finais de semana nós ficávamos na república, fazíamos festa ou um churrasco; ou, de vez em quando, uma resolvia maquiar a outra. Coisas assim. Tem Ribeirão Preto, que é perto, dava uns 60 quilômetros, e quanto podia a gente dava uma escapadinha até lá. Ribeirão é uma cidade muito gostosa e também tem muito essa área agrícola, muito show de rodeio, tudo ligado mais nessa área.

Na universidade, já no terceiro ano, eu decidi que iria trabalhar na área de hortaliças. Quando eu tomei essa decisão as pessoas diziam: “Você tem que ir para as grandes culturas, essa área sua não vai dar dinheiro”. Ou: “Você tem que trabalhar com cana. Você tem que trabalhar com milho, com soja, com algodão”. Mas eu me mantive nessa área de cultivo protegido desde a graduação e foi bom, porque hoje ela vem crescendo. Eu terminei a graduação em 1990. Depois fiz o mestrado e o doutorado e em 2000 fui trabalhar na Instituição Moura Lacerda, em Ribeirão Preto, que é uma universidade privada, sempre trabalhando no desenvolvimento de pesquisa, e sempre pesquisas direcionadas para o cultivo de hortaliças.

Em 2005 eu prestei concurso na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) e desde 2009, algo assim, venho trabalhando na área do cultivo protegido de hortaliças. Eu sou responsável pela produção, e no trabalho nós visamos não só a qualidade, a produtividade da matéria-prima, mas também um alimento seguro para o consumidor. Alimento seguro é um alimento que não possui resíduos tóxicos, que é produzido sem riscos de contaminação tanto para os animais quanto para o homem. Então nós utilizamos práticas de manejo tanto de pragas e de doenças, e outras práticas de manejo cultural, que diminuam os riscos de contaminação do ambiente.

Na maior parte das vezes nosso trabalho é lento, porque o produtor pratica aquela atividade há anos, e para você mudar o sistema você tem que mostrar não só que ele vai ter um ganho, mas também que esse ganho não vai elevar o custo de produção dele de forma que não possa pagar. Nós fazemos o contato tentando usar uma linguagem simples para, a partir dali, trocar ideias. Então, além das visitas às propriedades, nós temos várias palestras, nós temos vários dias de campo, no sentido de informar, de realmente consolidar que há necessidade de mudança, porque se ele continuar naquele sistema, se ele não fornecer à empresa um alimento seguro, ele pode ser descredenciado.

Mas, como eu disse, é um trabalho lento. Por quê? Porque o pequeno produtor não tem nível técnico que o faça absorver rapidamente o conhecimento. Nesse meio tempo do projeto eu tive uma experiência horrível nos Estados Unidos. Porque uma pesquisadora que vai para lá quando é jovem, ela tem uma flexibilidade maior, mas eu já fui mais velha, cheguei lá com a dificuldade da língua e isso foi ruim. A cultura americana é completamente diferente, então você leva um choque, você sofre uma certa rejeição. E eu perguntava às pessoas: “Meu Deus, quanto tempo vai durar isso? Não. Vou pegar o avião e vou embora”. Isso durou em torno de três meses. Mas aí aconteceu que, passando esse período, você realmente tem um ganho pessoal. Você entende a cultura de outro país e o quanto nós somos às vezes ignorantes, falando mal de uma determinada cultura. Se você é bom, seja da Índia, seja da China, do Brasil, do Japão, eles têm mais essa abertura.

Nosso objetivo é melhorar o sistema produtivo do pequeno agricultor. Se a gente não estabelecer o pequeno produtor no campo em breve ele não terá mais espaço no setor agrícola, ou terá um nicho de mercado bastante específico. Hoje a rentabilidade do produtor de salsa ultrapassa 80 toneladas por hectare, sendo que na fase inicial essa produtividade girava em torno de 30 toneladas. Dentro da minha profissional meu sonho é formar alunos capacitados alunos nessa área de produção de hortaliças. Você sempre passa a sua personalidade, aquilo que você é, são poucos que você encontra de acordo com aquilo que você é, mas essas pessoas que são parecidas com você, você leva elas pra vida toda.

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